REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Frei Carlos Mesters, O.Carm.
25 de Julho - São Tiago (Maior) Apóstolo
Martírio de São Tiago Maior, irmão de São João
1) Oração
Deus eterno e todo-poderoso,
que pelo sangue de São Tiago consagrastes as primícias dos trabalhos
Apostólicos, concedei que a vossa igreja seja confirmada pelo seu testemunho e
sustentada pela sua proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 20, 20-28)
20A mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, aproximou-se de Jesus e
prostrou-se para lhe fazer um pedido. 21Ele perguntou: “Que queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois
filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. 22Jesus disse: “Não sabeis o que
estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam:
“Podemos”. 23“Sim”, declarou Jesus, “do meu cálice bebereis, mas o sentar-se à minha
direita e à minha esquerda não depende de mim. É para aqueles a quem meu Pai o
preparou”. 24Quando os outros dez ouviram isso, ficaram zangados com os dois irmãos. 25Jesus, porém, chamou-os e disse:
“Sabeis que os chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu
poder. 26Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja
aquele que vos serve, 27e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. 28Pois o Filho do Homem não veio
para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”.
3) Reflexão (Mateus 20,20-28)
* Jesus e os discípulos estão a caminho de Jerusalém (Mt
20,17). Jesus sabe que vão matá-lo (Mt 20,8). O profeta Isaías já o tinha anunciado
(Is 50,4-6; 53,1-10). Sua morte não será fruto de um destino cego ou de um
plano já preestabelecido, mas será conseqüência do compromisso livremente
assumido de ser fiel à missão que recebeu do Pai junto aos pobres da sua terra.
Jesus já tinha avisado que o discípulo deve seguir o mestre e carregar sua cruz
atrás dele (Mt 16,21.24), Mas os discípulos não entendiam bem o que estava
acontecendo (Mt 16,22-23; 17,23). O sofrimento e a cruz não combinavam com a
idéia que eles tinham do messias.
* Mateus
20,20-21: O pedido da mãe dos filhos de Zebedeu
Os discípulos não só não entendem, mas continuam com
suas ambições pessoais. A mãe dos filhos de Zebedeu, como porta-voz de seus
dois filhos Tiago e João, chega perto de Jesus para pedir um favor: "Promete que meus dois filhos se
sentem, um à tua direita e o outro à tua esquerda, no teu Reino". Eles
não tinham entendido a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os
próprios interesses. Isto reflete as tensões nas comunidades, tanto no tempo de
Jesus e de Mateus, como hoje nas nossas comunidades.
* Mateus
20,22-23: A resposta
de Jesus
Jesus reage com firmeza. Ele responde aos filhos e não
à mãe: "Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso, vocês podem beber o
cálice que eu vou beber?"
Trata-se do cálice do sofrimento. Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de
honra, aceitam entregar sua vida até à morte. Os dois respondem: “Podemos!” Era uma resposta sincera e
Jesus confirma: "Vocês vão beber do meu cálice”. Ao mesmo tempo, parece
uma resposta precipitada, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o
deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mt 26,51). Eles não têm muita
consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. E Jesus completa: “Não depende de mim conceder o lugar à
minha direita ou esquerda. É meu Pai quem dará esses lugares àqueles para os
quais ele mesmo preparou". O
que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice do sofrimento da cruz.
* Mateus
20,24-27: Entre vocês
não seja assim
“Quando os outros
dez discípulos ouviram isso, ficaram com raiva dos dois irmãos”. O pedido
que a mãe fez em nome dos dois, provocou briga e discussão no grupo. Jesus os
chamou e falou sobre o exercício do poder:"Vocês sabem: os governadores das
nações têm poder sobre elas, e os grandes têm autoridade sobre elas. Entre
vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o
servidor de vocês; e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se
servo de vocês. Entre vocês
não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!”. Naquele tempo, os que detinham o poder não prestavam
conta ao povo. Agiam conforme bem entendiam (cf. Mc 14,3-12). O império romano
controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas e, assim, através
de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão
de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e
abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele traz ensinamentos contra os
privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste na atitude de
serviço como remédio contra a ambição pessoal. A comunidade deve preparar uma
alternativa. Quando império romano desintegrar, vítima das suas próprias
contradições internas, as comunidades deverão estar preparadas para oferecer ao
povo um modelo alternativo de convivência social.
* Mateus
20,28: O resumo da vida de Jesus
Jesus define a sua vida e a sua missão: “O Filho do Homem não veio para ser
servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de
muitos”. Nesta auto-definição de
Jesus estão implicados três títulos que o definem e que eram para os primeiros
cristãos o início da Cristologia: Filho do Homem, Servo de Javé e Irmão mais
velho (Parente próximo ou Goêl).
Jesus é o messias Servidor,
anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12).
Aprendeu da mãe que disse: “Eis aqui a serva
do Senhor!”(Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo.
4) Para um confronto pessoal
1. Tiago e João pedem favores, Jesus promete
sofrimento. E eu, o que busco na minha relação com Deus e o que peço na oração?
Como acolho o sofrimento que acontece na vida e que é o contrário daquilo que
pedimos na oração?
2. Jesus diz: “Entre vocês não deve ser assim!”
Nosso jeito de viver na comunidade e na igreja está de acordo com este conselho
de Jesus?
5) Oração final
Então se comentava entre os povos:
“O Senhor fez por eles maravilhas”.
Maravilhas o Senhor fez por nós,
encheu-nos de
alegria. (Sl 125,
2-3)