REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Pe. Tomaz Hughes SVD
Lc
2, 22-40
“Meus olhos viram a tua salvação”
Deus eterno e todo-poderoso, ouvi as nossas súplicas. Assim como o vosso Filho único, revestido da nossa humanidade, foi hoje apresentado no templo, fazei que nos apresentemos diante de vós com os corações purificados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho
(Lucas 2,22-40)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
2,22 Concluídos os dias da sua purificação da mãe e do filho, segundo a Lei
de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, 23 conforme o que está
escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao
Senhor; 24 e para oferecerem o
sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos. 25 Ora, havia em Jerusalém
um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de
Israel, e o Espírito Santo estava nele. 26 Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem
primeiro ver o Cristo do Senhor. 27 Impelido pelo Espírito
Santo, foi ao templo. E tendo os pais apresentado o menino Jesus, para
cumprirem a respeito dele os preceitos da lei, 28 tomou-o em seus braços e louvou a Deus nestes termos: 29 Agora, Senhor, deixai o
vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. 30 Porque os meus olhos viram a vossa salvação 31 que preparastes diante
de todos os povos, 32 como luz para iluminar
as nações, e para a glória de vosso povo de Israel. 33 Seu pai e sua mãe
estavam admirados das coisas que dele se diziam. 34 Simeão abençoou-os e
disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de
queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que
provocará contradições, 35 a fim de serem revelados
os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma. 36 Havia também uma
profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser; era de idade
avançada. 37 Depois de ter vivido
sete anos com seu marido desde a sua virgindade, ficara viúva, e agora com
oitenta e quatro anos não se apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em
jejuns e orações. 38 Chegando ela à mesma
hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém
esperavam a libertação. 39 Após terem observado
tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, à sua cidade de Nazaré.
40 O menino ia crescendo e
se fortificava: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava nele. Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Hoje, 02 de Fevereiro, a Igreja celebra a
Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo, com um texto do Evangelho de
Lucas. Embora o texto seja bem
conhecido, para aprofundar o pensamento de Lucas é bom não somente fixarmos nos
eventos relatados, mas ver neles uma releitura de textos importantes do Antigo
Testamento. Como Lucas adaptou o
Cântico de Ana (I Sm 2, 1-10) para construir o Magnificat, o Canto de Maria (Lc
1, 46-55), aqui ele usou como fonte a narrativa de Elcana e Ana em I Sm
1-2. Naquela narrativa o sacerdote
idoso Eli aceita a dedicação do filho feita pelo casal no santuário de Silo e
abençoe os pais de Samuel. Lucas
expande e aprofunda essas tradições com temas caros a ele: realização de
promessa, templo, universalismo, rejeição, testemunho e o papel das mulheres. O centro teológico do texto se acha em
2,29-32, o Canto de Simeão.
A estrutura do texto é assim: vv. 21-24 formam o
contexto para o testemunho duplo de Simeão e Ana em vv. 25-38 e os vv. 39-40
formam a conclusão.
A meta de Lucas é enfatizar a fidelidade dos pais de
Jesus à Lei mosaica. A nova
manifestação da salvação de Deus vem dentro dessa fidelidade. A lei da purificação se encontra em Lv
12, 2-8 (indica-se Lv 12,6 em 2,22 e Lv 12,8 em 2,24). A Lei referente à consagração do
primogênito acha-se em Ex 13,1-2.
Mas em lugar de mencionar a norma que pedia o resgate da criança pelo
pagamento de cinco siclos (Nm 3, 47-48. 18, 15-16), Lucas introduz a
apresentação de Jesus, o que não era exigência do Antigo Testamento. Com esse relato ele quer enfatizar o
zelo dos pais em assumir a tarefa que Deus lhes confiou. Vale notar que eles oferecem duas
rolas, o que era a oferta permitida aos pobres para a purificação da mãe (Lv
12, 8). Mais uma vez notamos aqui um dos temas preferidos de Lucas, cujo
Evangelho é muitas vezes chamado “O Evangelho dos pobres e excluídos”, situando
a família de Jesus entre o povo pobre da Palestina.
É também importante notar que, no Canto de Simeão, vv.
29-32, a salvação dos pagãos é anunciada pela primeira vez em Lc. Ela só será claramente apresentada a
partir da revelação pascal em Lc 24,47.
Não é fácil entender o trecho um tanto enigmático de
vv. 34 -35, especialmente no que se refere à frase dirigida à Maria “Quanto a
você, uma espada há de atravessar-lhe a alma” (v35a). Frequentemente se explica
essas palavras como referentes à dor da Maria em testemunhar o sofrimento de
Jesus na cruz, (“a mãe dolorosa”) mas, na verdade, o Evangelho de Lucas não
fala que Maria estava presente na morte de Jesus (esse relato só que encontra
em Jo 19, 25-27). Provavelmente
Lucas quer enfatizar que a missão de Jesus age como uma espada que faz corte
radical entre as opções da vida, a semelhança da ação da Palavra de Deus em
Hebreus (Hb 4, 12-13), e até Maria tem que fazer essa opção radical por
Jesus. De fato, em Lucas ela é
apresentada como discípula-missionária do Senhor!
Então o texto também nos convida para que façamos uma
opção definitiva e radical pelo seguimento de Jesus, pois todos nós, desde o
nosso batismo, recebemos a vocação de sermos discípulos/as-missiopnários/as de
Jesus.