sexta-feira, 23 de agosto de 2013

24 de Agosto - São Bartolomeu - Apóstolo


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

24 de Agosto - São Bartolomeu - Apóstolo



1) Oração

Ó Deus, fortalecei em nós aquela fé que levou são Bartolomeu a seguir de coração o vosso Filho e fazei que, pelas preces do apóstolo, a vossa Igreja se torne sacramento da salvação para todos os povos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


2) Leitura do Evangelho  (Jo 1,45-51)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— 1,45 Filipe encontra Natanael e diz-lhe: "Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei e que os profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José". 
46 Respondeu-lhe Natanael: "Pode, porventura, vir coisa boa de Nazaré?" Filipe retrucou: "Vem e vê". 
47 Jesus vê Natanael, que lhe vem ao encontro, e diz: "Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade". 
48 Natanael pergunta-lhe: "Donde me conheces?" Respondeu Jesus: "Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira". 
49 Falou-lhe Natanael: "Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel". 
50 Jesus replicou-lhe: "Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta". 
51 E ajuntou: "Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem".
- Palavra da Salvação.

3) Reflexão  - Jo 1, 45-51
*  O Apóstolo Bartolomeu é identificado com o Natanael do Evangelho.
*  Jesus voltou para a Galiléia. Encontrou Filipe e o chamou: "Segue-me!" O objetivo do chamado é sempre o mesmo: "seguir Jesus". Os primeiros cristãos fizeram questão de conservar os nomes dos primeiros discípulos. De alguns conservaram até os apelidos e o nome do lugar de origem. Filipe, André e Pedro eram de Betsaida (Jo 1,44). Natanael era de Caná (Jo 22,2). Hoje, muitos esquecem os nomes das pessoas que estão na origem da sua comunidade. Lembrar os nomes é uma forma de conservar a identidade.
*  Filipe encontra Natanael e fala com ele sobre Jesus: "Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas! É Jesus, o filho de José, de Nazaré!" Jesus é aquele para o qual apontava toda a história do Antigo Testamento.
*  Natanael pergunta: "De Nazaré pode vir coisa boa?" Possivelmente, na pergunta dele transparece a rivalidade que costuma existir entre as pequenas aldeias de uma mesma região: Caná e Nazaré. Além disso, conforme o ensinamento oficial dos escribas, o Messias viria de Belém na Judéia. Não podia vir de Nazaré na Galiléia (Jo 7,41-42). André dá a mesma resposta que Jesus tinha dado aos outros dois discípulos: "Venha e veja você mesmo!" Não é impondo, mas sim vendo que as pessoas se convencem. Novamente, o mesmo processo: encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus!
*  Jesus vê Natanael e diz: "Eis um israelita autêntico, sem falsidade!" E afirma que já o conhecia quando estava debaixo da figueira. Como é que Natanael podia ser um "israelita autêntico" se ele não aceitava Jesus como messias? Natanael "estava debaixo da figueira". A figueira era o símbolo de Israel (cf. Mq 4,4; Zc 3,10; 1Rs 5,5). Israelita autêntico é aquele que sabe desfazer-se das suas próprias idéias quando percebe que elas estão em desacordo com o projeto de Deus. O israelita que não está disposto a fazer esta conversão não é autêntico nem honesto. Natanael é autêntico. Ele esperava o messias de acordo com o ensinamento oficial da época (Jo 7,41-42.52). Por isso, inicialmente, não aceitava um messias vindo de Nazaré. Mas o encontro com Jesus ajudou-o a perceber que o projeto de Deus nem sempre é do jeito que a gente o imagina ou deseja. Ele reconhece o seu engano, muda de idéia, aceita Jesus como messias e confessa: "Mestre, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel!" A confissão de Natanael é apenas o começo. Quem for fiel, verá o céu aberto e os anjos subindo e descendo sobre o Filho do Homem. Experimentará que Jesus é a nova ligação entre Deus e nós, seres humanos. É a realização do sonho de Jacó (Gn 28,10-22).
*  A diversidade do chamado.
Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam o chamado dos primeiros discípulos de maneira muito mais resumida: Jesus passa na praia, chama Pedro e André. Logo depois, chama Tiago e João (Mc 1,16-20). O evangelho de João tem um outro jeito de descrever o início da primeira comunidade que se formou ao redor de Jesus. Ele traz histórias bem mais concretas. O que chama a atenção é a variedade dos chamados e dos encontros das pessoas entre si e com Jesus. Deste modo, João ensina como se deve fazer para iniciar uma comunidade. É através de contatos e convites pessoais, até hoje! A uns, Jesus chamou diretamente (Jo 1,43). A outros, indiretamente (Jo 1,41-42). Num dia, chamou dois discípulos de João Batista (Jo 1,39). No dia seguinte, chamou Filipe que, por sua vez, chamou Natanael (Jo 1,45). Nenhum chamado se repete, porque cada pessoa é diferente. A gente nunca esquece os chamados e encontros importantes que marcam a vida da gente. Lembra até a hora e o dia (Jo 1,39).
4) Para um confronto pessoal
1. Você já teve um encontro marcante na sua vida? Como foi que descobriu a chamada de Deus aí dentro?
2. Você já se interessou alguma vez, como Filipe, em chamar uma outra pessoa para participar da comunidade?
5) Oração final
Eu vos louvarei de todo o coração, Senhor,
porque ouvistes as minhas palavras.
Na presença dos anjos eu vos cantarei.
Ante vosso santo templo prostrar-me-ei,
e louvarei o vosso nome, pela vossa bondade e fidelidade. (Sl 137,1-2)

23 de Agosto - Santa Rosa de Lima


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

23 de Agosto - Santa Rosa de Lima



1) Oração

Ó Deus, que inspirastes santa Rosa de Lima, inflamada de amor, a deixar o mundo, a servir os pobres e a viver em austera penitência, concedei-nos, por sua intercessão, seguir na terra os vossos caminhos e gozar no céu as vossas delícias. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


2) Leitura do Evangelho (Mateus 13,44-46)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus. - Naquele tempo, 13,44 disse Jesus: "O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo. 
45 O Reino dos céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. 
46 Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra".
- Palavra da Salvação.
3) Reflexão
*  Na festa de Santa Rosa de Lima a Igreja nos propõe como texto do Evangelho duas pequenas parábolas do Sermão das Parábolas. As duas são semelhantes entre si, mas com diferenças significativas para esclarecer melhor determinados aspectos do Mistério do Reino que está sendo revelado através destas parábolas.
Mateus 13,44: A parábola do tesouro escondido no campo
Jesus conta uma história bem simples e bem curta que poderia acontecer na vida de qualquer um de nós. Ele diz: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”. Jesus não explica. Ele só diz: O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo”. Assim, ele provoca os ouvintes a partilhar com os outros o que esta história nele suscitou. Partilho alguns pontos que descobri: (1) O tesouro, o Reino, já está no campo, já está na vida. Está escondido. Passamos e pisamos por cima sem nos dar conta. (2) O homem encontrou o tesouro. Foi puro acaso. Ele não esperava encontrá-lo, pois não estava procurando. (3) Ao descobrir que se trata de um tesouro muito importante, o que ele faz? Faz o que todo mundo faria para ter o direito de poder apropriar-se do tesouro. Ele vai, vende tudo que tem e compra o campo. Assim, junto com o campo adquiriu o tesouro, o Reino. A condição é vender tudo! (4) Se o tesouro, o Reino, já estava na vida, então é um aspecto importante da vida que começa a ter um novo valor. (5) Nesta história, o que predomina é a gratuidade. O tesouro é encontrado por acaso, para além das programações nossas. O Reino acontece! E se acontece, você ou eu temos que tirar as conseqüências e não permitir que este momento de graça passe sem dar fruto.
Mateus 13,45-46: A parábola do comprador de pedras preciosas
A segunda parábola é semelhante à primeira mas tem uma diferença importante. Tente descobri-la. A história é a seguinte: “O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola”.  Partilho alguns pontos que descobri: (1) Trata-se de um comerciante de pérolas. A profissão dele é buscar pérolas. Ele só faz isso na vida: buscar e encontrar pérolas. Buscando, ele encontra uma pérola de grande valor. Aqui a descoberta do Reino não é puro acaso, mas fruto de longa busca. (2) Comerciante de pérola entende do valor das pérolas, pois muitas pessoas querem vender para ele as pérolas que encontraram. Mas o comerciante não se deixa enganar. Ele conhece o valor da sua mercadoria. (3) Quando ele encontra uma pérola de grande valor, ele vai e vende tudo que tem e compra essa pérola. O Reino é o valor maior.
*  Resumindo o ensinamento das duas parábolas. As duas tem o mesmo objetivo: revelar a presença do Reino, mas cada uma revela uma maneira diferente de o Reino mostrar a sua presença: através de descoberta da gratuidade da ação de Deus em nós, e através do esforço e da busca que todo ser humano faz para ir descobrindo cada vez melhor o sentido da sua vida.

4)  Para um confronto pessoal
1) Tesouro escondido: já encontrou alguma vez? Já vendeu tudo para poder adquiri-la?
2) Buscar pérolas: qual a pérola que você busca e ainda não encontrou?

5) Oração final
Eu, porém, cantarei vosso poder,
e desde o amanhecer celebrarei vossa bondade.
Porque vós sois o meu amparo,
um refúgio no dia da tribulação. (Sl 58, 17)



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

29 de Agosto - Martírio de São João Batista



REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

29 de Agosto - Martírio de São João Batista

Martírio de São João Batista   

1) Oração

Ó Deus, quisestes que São João Batista fosse o precursor do nascimento e da morte do vosso Filho; como ele tombou na luta pela justiça e a verdade, fazei-nos também lutar corajosamente para testemunhar a vossa palavra. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


2) Leitura do Evangelho  (Marcos 6,17-29)
17Pois o próprio Herodes mandara prender João e acorrentá-lo no cárcere, por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com a qual ele se tinha casado.18João tinha dito a Herodes: Não te é permitido ter a mulher de teu irmão.19Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, não o conseguindo, porém.20Pois Herodes respeitava João, sabendo que era um homem justo e santo; protegia-o e, quando o ouvia, sentia-se embaraçado. Mas, mesmo assim, de boa mente o ouvia.21Chegou, porém, um dia favorável em que Herodes, por ocasião do seu natalício, deu um banquete aos grandes de sua corte, aos seus oficiais e aos principais da Galiléia.22A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e dos seus convivas. Disse o rei à moça: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.23E jurou-lhe: Tudo o que me pedires te darei, ainda que seja a metade do meu reino.24Ela saiu e perguntou à sua mãe: Que hei de pedir? E a mãe respondeu: A cabeça de João Batista.25Tornando logo a entrar apressadamente à presença do rei, exprimiu-lhe seu desejo: Quero que sem demora me dês a cabeça de João Batista.26O rei entristeceu-se; todavia, por causa da sua promessa e dos convivas, não quis recusar.27Sem tardar, enviou um carrasco com a ordem de trazer a cabeça de João. Ele foi, decapitou João no cárcere,28trouxe a sua cabeça num prato e a deu à moça, e esta a entregou à sua mãe.29Ouvindo isto, os seus discípulos foram tomar o seu corpo e o depositaram num sepulcro.

3) Reflexão
*  Hoje comemoramos o martírio de São João Batista. O evangelho traz a descrição de como João Batista foi morto sem processo, durante um banquete, vítima da corrupção e da prepotência de Herodes e sua corte.
Marcos 6,17-20. A causa da prisão e do assassinato de João.
   Herodes era um empregado do império romano. Quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era César, o imperador de Roma. Herodes, para não ser deposto, procurava agradar a Roma em tudo. Insistia sobretudo numa administração eficiente que desse lucro ao Império e a ele mesmo. A preocupação de Herodes era a sua própria promoção e segurança. Por isso, reprimia qualquer tipo de subversão. Ele gostava de ser chamado de benfeitor do povo, mas na realidade era um tirano (cf. Lc 22,25). Flávio José, um escritor daquela época, informa que o motivo da prisão de João Batista era o medo que Herodes tinha de um levante popular. A denúncia de João Batista contra a moral depravada de Herodes (Mc 6,18), foi a gota que fez transbordar o copo, e João foi preso. 
Marcos 6,21-29: A trama do assassinato.
Aniversário e banquete de festa, com danças e orgias! Era o ambiente em que os poderosos do reino se reuniam e no qual se costuravam as alianças. A festa contava com a presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da Galiléia”. É nesse ambiente que se trama o assassinato de João Batista. João, o profeta, era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por isso, ele foi eliminado sob pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto revela a fraqueza moral de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si! No entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a uma jovem dançarina. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento. Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha deles como dispunha da posição das cadeiras na sala. Marcos conta o fato tal qual e deixa às comunidades e a nós a tarefa de tirarmos as conclusões.
*  Nas entrelinhas, o evangelho de hoje traz muitas informações sobre o tempo em que Jesus vivia e sobre a maneira como era exercido o poder pelos poderosos da época. Galiléia, terra de Jesus, era governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande, desde 4 antes de Cristo até 39 depois de Cristo. Ao todo, 43 anos! Durante todo o tempo que Jesus viveu, não houve mudança de governo na Galiléia! Herodes era dono absoluto de tudo, não prestava conta a ninguém, fazia o que bem entendia. Prepotência, falta de ética, poder absoluto, sem controle por parte do povo!
*  Herodes construiu uma nova capital, chamada Tiberíades. Sefforis, a antiga capital, tinha sido destruída pelos romanos em represália contra um levante popular. Isto aconteceu quando Jesus tinha em torno de sete anos de idade. Tiberíades, a nova capital, foi inaugurada treze anos mais tarde, quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para agradar a Tibério, o imperador de Roma. Tiberíades era um quisto estranho na Galiléia. Era lá que viviam o rei, “os magnatas, os generais e os grandes da Galiléia” (Mc 6,21). Era lá que moravam os donos das terras, os soldados, a polícia, os juizes muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados os impostos e o produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte (Mc 6,21-29). Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado nessa cidade.
  Ao longo daqueles 43 anos do governo de Herodes, criou-se toda uma classe de funcionários fieis ao projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras, fiscais do mercado, publicanos ou coletores de impostos, militares, policiais, juizes, promotores, chefes locais. A maior parte deste pessoal morava na capital, gozando dos privilégios que Herodes oferecia, por exemplo, isenção de impostos. Outra parte vivia nas aldeias. Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas que apoiavam o governo. Vários escribas e fariseus estavam ligados ao sistema e à política do governo. Nos evangelhos, os fariseus aparecem junto com os herodianos (Mc 3,6; 8,15; 12,13), o que reflete a aliança que existia entre o poder religioso e poder civil. A vida do povo nas aldeias da Galiléia era muito controlada, tanto pelo governo como pela religião. Era necessário ter muita coragem para começar algo novo, como fizeram João e Jesus! Era o mesmo que atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto do poder religioso como do poder civil, tanto em nível local como estadual.

4) Para um confronto pessoal
1. Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo? Dê um exemplo.
2. Superstição, covardia e corrupção marcavam o exercício do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos vários níveis tanto da sociedade como da Igreja.

5) Oração final
É em vós, Senhor, que procuro meu refúgio;
que minha esperança não seja para sempre confundida.
Por vossa justiça, livrai-me, libertai-me;
inclinai para mim vossos ouvidos e salvai-me. (Sl 70, 1-2)



22 de Agosto - Nossa Senhora Rainha


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

22 de Agosto - Nossa Senhora Rainha

Nossa Senhora Rainha


1) Oração

Ó Deus, que fizestes a Mãe do vosso Filho nossa Mãe e Rainha, dai-nos, por sua intercessão, alcançar o reino do céus e a glória prometida aos vossos filhos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


2) Leitura do Evangelho  (Lucas 1,26-38)
Naquele tempo, 26o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. 28Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. 29Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. 30O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. 32Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, 33e o seu reino não terá fim. 34Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? 35Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, 37porque a Deus nenhuma coisa é impossível. 38Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela. Palavra da Salvação.

3) Reflexão
*  Hoje é a festa de Maria Rainha ou Nossa Senhora Rainha. O texto que meditamos no evangelho descreve a visita do anjo a Maria (Lc 1,26-38). A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo. No AT, muitas vezes, o Anjo de Deus é o próprio Deus. Foi graças à ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, que Maria foi capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do Anjo. Assim também acontece com a visita de Deus em nossas vidas. As visitas de Deus são frequentes. Mas por falta de ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, não percebemos a visita de Deus em nossas vidas. A visita de Deus é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já nem a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.
Lucas 1,26-27: A Palavra faz a sua entrada na vida.
   Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galiléia. Galiléia era periferia. O centro era Judéia e Jerusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome Maria significa amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de Deus a Maria começa com a expressão “No sexto mês”. Trata-se do "sexto mês" da gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade, precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e no fim (Lc 1,36.39).
Lucas 1,28-29: A reação de Maria.
   Foi no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia. O anjo diz: “Alegra-te! Cheia de graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes já tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12), a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros. Elas abrem o horizonte para a missão que estas pessoas do Antigo Testamento deviam realizar a serviço do povo de Deus. Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista, usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.
Lucas 1,30-33: A explicação do anjo.
   “Não tenha medo, Maria!” Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano: não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer de Maria. Este filho deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não ficar assustada.
Lucas 1,34: Nova pergunta de Maria
   Maria tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição: “Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?” Ela analisa a oferta a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois, humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se realizasse naquele momento.
Lucas 1,35-37: Nova explicação do anjo
   "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus”. O Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo mundo dizia que ela não podia ter nenê! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!”
Lucas 1,38A entrega de Maria.
   A resposta do anjo clareou tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus estava pedindo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Maria usa para si o título de Serva, empregada do Senhor. O título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos (Is 42,1-9; 49,3-6). Mais tarde, Jesus, o filho que estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão:  “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mt 20,28). Aprendeu da Mãe!
Lucas 1,39A forma que Maria encontra para servir
   A Palavra de Deus chegou e fez com que Maria saísse de si para servir aos outros.  Ela deixa o lugar onde estava e vai para a Judéia, a mais de quatro dias de viagem, para ajudar sua prima Isabel. Maria começa a servir e cumprir sua missão a favor do povo de Deus.

4) Para um confronto pessoal
1. Como você percebe a visita de Deus em sua vida? Você já foi visitada ou visitado? Você já foi uma visita de Deus na vida dos outros, sobretudo dos pobres? Como este texto nos ajuda a descobrir as visitas de Deus em nossa vida?
3. A Palavra de Deus se encarnou em Maria. Como a Palavra de Deus está tomando carne na minha vida pessoal e na vida da comunidade?

5) Oração final
Que louvem o Senhor por sua bondade
e por suas maravilhas em favor dos homens.
Pois saciou quem tinha sede,
e cumulou de bens os que tinham fome. (Sl 106, 8-9)