REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
Pe. Thomaz Hughes, SVD
9 de Novembro - DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO
LATRÃO
“Mas Ele falava do templo do seu corpo”
João
2, 13-22
“Mas Ele falava do templo do seu corpo”
INTRODUÇÃO
Hoje,
celebramos a Dedicação da Igreja do Latrão, por ser a primeira igreja
construída em Roma. É chamada, por isso, a mãe de todas as igrejas do mundo.
Por motivo de antiguidade, a Igreja mantém a tradição de uma festa litúrgica
nesta data. Não estamos comemorando a construção daquela igreja, mas vamos nos
servir dela para refletir sobre a Igreja que é formada por pedras vivas, que é
o Povo de Deus.
Oração do dia
Ó Deus, que
edificais o vosso templo eterno com pedras vivas e escolhidas, difundi na vossa
Igreja o Espírito que lhe destes, para que o vôo povo cresça sempre mais,
construindo a Jerusalém celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo.
EVANGELHO (João 2,13-22)
+ Leitura do Evangelho de Jesus Cristo segundo João 2,13-22
2,13Estava próxima a Páscoa
dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14No Templo, encontrou os
vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. 15Fez
então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e
os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. 16E
disse aos que vendiam pombas: "Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu
Pai uma casa de comércio!" 17Seus discípulos lembraram-se, mais
tarde, que a Escritura diz: "O zelo por tua casa me consumirá". 18Então
os judeus perguntaram a Jesus: "Que sinal nos mostras para agir
assim?" 19Ele respondeu: "Destruí, este Templo, e em três
dias o levantarei". 20Os judeus disseram: "Quarenta e seis
anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três
dias?" 21Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo. 22Quando
Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e
acreditaram na Escritura e na palavra dele. Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
A Basílica de São João Lateranense, a catedral da Igreja de Roma, é
considerada a mãe de todas as Igrejas Católicas do mundo. Foi construída por
Constantino nas primeiras décadas do século quatro.
No contexto do Quarto Evangelho, esse texto se situa durante a visita
de Jesus a Jerusalém para a primeira das três Páscoas mencionadas neste
Evangelho (nos Sinóticos só é mencionado uma Páscoa). No Templo, que
deveria ser o lugar do culto ao Deus verdadeiro de Israel, o Deus de
libertação, o Deus dos pobres e sofridos, ele encontra um verdadeiro mercado,
onde, no pátio externo, era possível comprar os animais para os sacrifícios, e
trocar a moeda, uma vez que a moeda corrente do país não era aceita no Templo.
Quando atacava esse comércio, Jesus estava indo além da mera condenação de um
abuso. Pois, os animais e o câmbio eram necessários para o funcionamento do
Templo. Como nos versículos precedentes do Capítulo 2, onde Jesus substituiu a
purificação dos judeus no sinal das bodas de Caná, aqui ele demonstra que o
centro do culto judaico perdeu o seu sentido. Pois, a presença de Deus, antes
achada no Templo, agora deturpado pela elite religiosa e política, doravante
reside em Jesus, o Filho de Deus encarnado. Ele cumpre as profecias de Jeremias
e Zacarias que predisseram uma religião sem templo nacionalista, explorador
econômico do povo (Jr 7, 11-14; Zc 14, 20-21).
João entende que o verdadeiro e duradouro templo é o corpo de Jesus,
que será ressuscitado em três dias - ele usa de propósito o verbo “reerguer” em
lugar do “reconstruir” dos Sinóticos (Mt 26, 61). As autoridades judaicas (não
“os judeus,” no sentido de raça ou religião) destruíram o sentido do Templo,
abusando do povo economicamente, como vão destruir o corpo de Jesus, matando-o;
mas Jesus tem o poder de reerguer o verdadeiro Templo onde habita Deus, na
Ressurreição, depois de três dias.
É bom lembrar que a “toca” ou “covil” de ladrões não é o lugar onde eles assaltam e roubam, mas onde
eles se sentem seguros. Assim,
Jesus está dizendo que o verdadeiro assalto contra a vida do povo se dá no
dia-a-dia do sistema econômico-político-social, e que os assaltantes – a elite
de Jerusalém, aliada ao poder romano – se sente segura, encobrindo a realidade
exploradora com ritos e rituais bonitos no Templo, como se Deus aprovasse o
sistema vigente.
Mais uma vez Jesus, através de uma ação profética, desmascara a
deturpação da religião, por parte das autoridades de Jerusalém. Embora o templo
fosse muito bonito e imponente, com liturgias pomposas bem freqüentadas, a sua
religião era vazia, pois escondia o rosto verdadeiro de Deus. As Igrejas correm
este mesmo risco nos dias de hoje. Além da descarada exploração financeira dos
seus fiéis por parte de alguns grupos religiosos (cuidemos para não
generalizarmos aqui e que a mesma coisa não aconteça na nossa Igreja!), aos
poucos muitas comunidades cristãs perderam a sua dimensão profética de denúncia
e anúncio, configurando-se ao mundo neoliberal de consumismo e gratificação
emocional imediata, tornando o Evangelho uma mercadoria a ser vendida através
de um marketing, que jamais pode questionar os valores da sociedade vigente.
Como escreveu uma vez o Frei Beto, a religião assim “brilha sob as luzes da
ribalta, trocando o silêncio pela histeria pública, a meditação pela emoção, a
liturgia pela dança aeróbica. Na esfera católica, torna o produto mais
palatável, destituindo-o de três fatores fundamentais na constituição da
igreja, mas inadequados ao mercado: a inserção dos fiéis em comunidades, a
reflexão bíblico-teológica e o compromisso pastoral no serviço à justiça. As
homilias se reduzem a breves exortações que não incomodam as consciências”.
Assim, o texto de hoje nos
traz um alerta - Jesus não veio compactuar com uma religião exploradora,
alienadora, aliada ao poder, mas para encarnar as opções do Deus da Bíblia,
libertador dos males e de toda exploração; ele veio “para que todos tenham a
vida e a vida em abundância” (Jo 10, 10). Uma religião que abandonasse a sua
função profética seria tão traidora como a religião decadente das elites do
Templo. Diante da arrogância despótica dos que se consideram “donos” do mundo e
dos seus recursos, por causa do seu poderio militar e econômico, as vozes do
Papa Francisco, do Dalai Lama e de outros líderes religiosos soam
profeticamente ao redor do mundo, lembrando-nos que a religião não se confina à
sacristia, mas tem que levar à prática dos princípios do Reino, que recusa
legitimar o derramamento de sangue e a destruição do meio-ambiente em troca de petróleo
e do lucro.
Neste dia em que a Igreja celebra a dedicação da “Igreja-Mãe” – a Basílica
de São João de Latrão, em Roma - verifiquemos o estado de reparo da nossa
Igreja Viva - feita não de pedras talhadas e construções imponentes, por tão
bonitas e até necessárias que possam ser, mas de discípulos/as-missionários/as,
inspirados pela pessoa e projeto de Jesus. Aproveitemos do ensejo para
reavaliar a nossa prática religiosa, para que não caiamos na desgraça do Templo
- bonito, atraente e emocionante, mas vazio de sentido.
Salmo - Sl 45(46),2-3.5-6.8-9 (R. 5)
R. Os braços de um rio vêm trazer alegria
à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
2O Senhor para nós é refúgio e vigor, *
sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia;
3assim não tememos, se a terra estremece, *
se os montes desabam, caindo nos mares.
R. Os braços de um rio vêm trazer alegria
à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
5Os braços de um rio vêm trazer alegria *
à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
6Quem a pode abalar? Deus está no seu meio! *
Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.
R. Os braços de um rio vêm trazer alegria
à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
8Conosco está o Senhor do universo! *
O nosso refúgio é o Deus de Jacó!
9Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus +
e a obra estupenda que fez no universo: *
reprime as guerras na face da terra.
R. Os braços de um rio vêm trazer alegria
à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
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