REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
Pe. Thomaz Hughes, SVD
1º de Janeiro - SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS
“Maria conservava todos esses fatos e meditava sobre eles no seu coração ”
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Lucas 2, 16-21
“Maria conservava todos esses fatos e meditava sobre eles no seu coração ”
Santa Mãe de Deus
Oração do dia
Ó
Deus, que pela virgindade fecunda de Maria destes à humanidade a salvação
eterna, dai-nos contar sempre com a sua intercessão, pois ela nos trouxe o
autor da vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
Evangelho (Lucas 2,16-21)
Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo Lucas.
2,16 Os pastores foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o
menino deitado na manjedoura. 17 Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste
menino. 18 Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam
os pastores. 19 Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu
coração. 20 Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o
que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito. 21 Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe
posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no
seio materno.
Palavra da Salvação.
3) Reflexão
Embora haja uma
certa confusão sobre as referências cronológicas nas narrativas da infância de
Jesus, em Lucas, - pois Quirino não foi governador no tempo de Herodes e não se
tem informações extra-bíblicas sobre um recenseamento feito por Augusto - a
finalidade do autor é situar o nascimento do Salvador firmemente dentro da
história humana, e especialmente a história humana dos pobres e excluídos.
Jesus nasce filho de viajantes, forçados a sair da sua casa pela força
opressora do império, pois a finalidade de um recenseamento era alistar todos
para a cobrança de impostos. Assim, o Messias nasce em condições subumanas e
indignas - como nascem e se criam milhões de crianças todos os anos na nossa
sociedade atual. Como não teve lugar para eles na “hospedaria” (um tipo de albergue
para viajantes, onde os animais ficavam no pátio, no primeiro andar tinha
cozinha comunitária e no segundo andar dormitórios, algo ainda comum em certas
regiões do Oriente hoje), Maria dá à luz em uma gruta ou estrebaria e deita
Jesus em uma manjedoura.
Logo, Lucas
introduz mais personagens tirados das fileiras dos excluídos da religião e
sociedade de então - os pastores. No tempo de Jesus eram considerados como
delinquentes, dispostos sempre ao roubo e à pilhagem; por isso, não mereciam
confiança alguma e nem podiam testemunhar em juízo. É importante notar que em
Lucas são pessoas pertencentes a duas categorias proibidas de dar testemunho em
juízo (pastores e mulheres) que Deus escolhe para testemunhar os dois eventos
mais importantes da história - o nascimento e a ressurreição do Salvador. Natal
se torna festa de inclusão dos que a religião oficial e a sociedade dominante
excluíam - enquanto a maioria da classe abastada da nossa sociedade atual
celebra o Natal exatamente nos templos de consumo de hoje - os Shoppings, onde
pessoas pobres são excluídas do banquete de poucos. Assim é tão bom escutar – e
assimilar – as palavras do Para Francisco sobre o sentido natalino, pois
facilmente até nós, pessoas bem integradas nas Igrejas, assimilamos a mentalidade
consumista e materialista, como por osmose, e muitas vezes, sem que notemos.
Que contradição!
É importante
refletir como Lucas nos apresenta a pessoa da Maria neste texto. Enquanto todos
os que ouviam os pastores “assombravam-se” (v. 18), “Maria, porém, conservava
isso e meditava tudo em seu íntimo” (v. 19). Dois textos do Antigo Testamento
usam o mesmo verbo grego (synetèrein):
Gn 37, 11 e Dn 4, 28, para descrever a perplexidade íntima de uma pessoa que
procura entender o significado profundo de um fato. Assim, Lucas enfatiza que
Maria não captou de imediato todo o sentido daquilo que ouviu, mas meditava as
palavras, contemplando-as, para descobrir o seu significado. Maria cresceu na
fé, acolhendo e discernindo o sentido profundo dos acontecimentos - se tornou
peregrina na fé, modelo para todos nós, nos convidando a nos mergulharmos nos
relatos evangélicos, contemplando os mistérios da vida de Jesus e o que eles
podem significar para nós hoje.
A festa de hoje,
também Dia Mundial da Paz, nos faz lembrar a mensagem dos anjos: “Glória a Deus
no alto, e na terra paz aos homens que ele ama” (v. 14). Aqui Lucas cria um
binômio - dois elementos conjugados, ou seja, uma maneira de dar glória a Deus
no alto é a criação da paz entre as pessoas aqui na terra. Atrás do termo “paz”
há um cabedal de reflexão teológica, vindo do Antigo Testamento. O nosso termo
“paz” capta somente uma parte do que significava a palavra hebraica “Shalom”,
que não se limita a uma mera ausência de violência física, mas inclui a
realização de tudo que Deus deseja para os seus filhos e filhas. Portanto, o
texto natalino nos convida e desafia para que demos glória a Deus através do
nosso esforço em criar um mundo de Shalôm - onde todos possam “ter a vida e a
vida em abundância!” (Jo 10, 10).
4) Oração (Sl 66,2-3.5.6.8)
R. Que Deus nos dê a sua graça e
sua bênção.
2Que Deus nos dê a sua
graça e sua bênção,*
e sua face resplandeça sobre nós!
3Que na terra se
conheça o seu caminho*
e a sua salvação por entre os
povos.
R. Que Deus nos dê a sua graça e
sua bênção.
5Exulte de alegria a
terra inteira,*
pois julgais o universo com
justiça;
os povos governais com retidão,*
e guiais, em toda a terra, as
nações.
R. Que Deus nos dê a sua graça e
sua bênção.
6Que as nações vos
glorifiquem, ó Senhor,*
que todas as nações vos
glorifiquem!
8Que o Senhor e nosso
Deus nos abençoe,*
e o
respeitem os confins de toda a terra!
R. Que Deus nos dê a sua graça e
sua bênção.
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Shalom!
Como o conceito bíblico de
“Shalom” foge dos nossos conceitos ocidentais, anexo uma excelente
reflexão sobre o termo, feito por Frei Ildo Perondi, OFM Cap, de Londrina-PR . Shalôm para todos/as!
Quando eu estava em Roma
escrevendo a minha tese, devia fazer uma análise do termo hebraico “Shalom”.
Não estava contente com as explicações dadas pelos dicionários, que em geral
traduziam o termo por “Paz”. Por isso, fui procurar um rabino hebreu, que muito
carinhosamente me recebeu.
- Falar de Shalom é algo
muito importante... - disse-me ele. Talvez seja um dos termos hebraicos mais
carregados de sentido e força que temos em nossa língua. É certo que traduzir
simplesmente por “Paz” empobrece muito o sentido da palavra original.
Enquanto ele falava,
calmamente, pegou um copo e tomando uma jarra de água, foi colocando no copo
muito devagar, deixando soar o borbulhar da água. O copo foi enchendo, e quando
mais chegava perto da borda ele ia cuidadosamente derramando ainda água...
- Veja bem, não cabe mais
nada. Nem uma gota de água neste copo. Se eu colocar mais, vai derramar, vai
transbordar. É quando tudo está completo, é a plenitude. Está me entendendo?
Balancei a cabeça em sentido
negativo, olhando para o copo cheio de tal modo que não coubesse mais nada.
- O Shalom é isso, irmão
meu. É o máximo que pode caber. Quando eu desejo um Shalom a alguém, eu desejo
todo o bem, tudo de bom, tanto bem que mais do que isso é impossível desejar.
Sinal da quitação, quando não existe nada mais a pagar. Estás entendendo?
- Sim, agora entendi o que é
o Shalom!
- Não ainda, irmão meu. Para
entender bem o sentido do Shalom é preciso receber o Shalom; é preciso ter o
Shalom... Posso ver em você perturbações, conflitos internos... Para você ter o
Shalom é preciso que você tenha a harmonia interna, que você equilibre dentro de
você as forças, que se sinta bem, que você esteja em harmonia consigo mesmo,
que esteja em paz...
- Agora entendi...
- Ainda não... Você não está
sozinho neste mundo. Você convive com pessoas. As pessoas são importantes na
nossa vida. E devemos estar em relação de harmonia com elas. Harmonizar-se com
as pessoas que estão perto de nós; harmonizar-se com as pessoas que amamos e
queremos bem; harmonizar-se com as pessoas que não gostamos e que às vezes nos
fazem mesmo o mal; harmonizar-se com as pessoas que estão longe; harmonizar-se
com as pessoas que necessitam de paz, de ajuda, que vivem em dificuldades, que
são excluídas, que passam fome, dor, solidão... Quando nos harmonizamos com as
pessoas então sim temos o Shalom.
- Entendi...
- Mais um pouco... Não estamos
sozinhos no mundo. Vivemos rodeados pelas criaturas de Deus. Você está sentindo
a cadeira onde está sentado? Sente o chão onde firma os seus pés? Sente o ar
que está respirando? Escute! Aposto que não está ouvindo a beleza do canto do
passarinho, o cachorro que late, o grito da vida e da natureza, a suavidade do
vento... Estar em harmonia com a Criação, com as criaturas, com a vida... Isso
é também ter o Shalom.
- Agora estou entendendo...
- Tenha ainda um pouco de
paciência. Irmão meu, você é uma criatura, não o Criador. Como um ser criado,
você deve estar em harmonia constante com Deus. O Deus que te amou, e que
pensou em ti no momento da Criação. Para ter o verdadeiro Shalom, você deve
estar em sintonia e em plena harmonia com Deus, nosso Criador... Harmonize a
tua vida com Ele, deixe que Ele guie os teus passos. E então terás o Shalom.
- Acho que nunca vou
entender o que é o Shalom...
- Não, agora você começou a
entender o verdadeiro sentido desta expressão hebraica. Nenhuma palavra das
línguas modernas pode traduzir toda a força e o conteúdo do Shalom da nossa
língua mãe. Mas, só quando conseguirmos harmonizar dentro de nós estas quatro
dimensões é que poderemos dizer que temos o Shalom; só então é que poderemos
desejar verdadeiramente um Shalom. Estar como um copo cheio onde não cabe mais
nada; deixar o outro como um copo repleto.
E me abraçando, olhando-me
nos olhos, e então desejou-me um Shalom...
Frei Ildo
Perondi OFM Cap.
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