quinta-feira, 21 de novembro de 2013

21 de Novembro - Apresentação de Nossa Senhora


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

21 de Novembro - Apresentação de Nossa Senhora


Ícone de Nossa Senhora da Apresentação


1) Oração

Ao celebrarmos, ó Deus, a gloriosa memória da santa virgem Maria, concedei-nos, por sua intercessão, participar da plenitude da vossa graça. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


2) Leitura do Evangelho (Mt 12,46-50)

Naquele tempo, 46enquanto Jesus falava à multidão,  sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora procurando falar com ele. 47Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te. 48Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? 49E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. 50Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.

3) Reflexão

A família de Jesus. Os parentes chegam à casa onde Jesus está. Provavelmente chegavam de Nazaré. De lá para Cafarnaum são uns 40 km. Sua mãe estava com eles. Não entram, mas enviam um recado: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te”. A reação Jesus é firme: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Para entender bem o significado desta resposta deve-se olhar para a situação da família no tempo de Jesus.
• No antigo Israel, o clã, ou seja, a grande família (a comunidade) era a base da convivência social. Era a proteção das famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o fluxo principal da tradição, a defesa da identidade. Era a maneira concreta de que as pessoas da época tinham a encarnar o amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã era o mesmo que defender a Aliança.
• Na Galiléia no tempo de Jesus, por causa do sistema implantado durante o longo governo de Herodes, o Grande (37 aC a 4 aC) e seu filho Herodes Antipas (4 aC a 39 dC), o clã (a comunidade) estava se enfraquecendo. Devia-se pagar impostos tanto para o governo como para o Templo, a dívida pública crescia, dominava a mentalidade individualista da ideologia helenista, havia freqüentes ameaças de repressão violenta da parte dos romanos, a obrigação de acolher os soldados e dar-lhes hospitalidade, os problemas cada vez maiores da sobrevivência, tudo isto levava as famílias fecharem-se em suas próprias necessidades. Este fechamento era reforçado pela religião da época. Por exemplo, quem dava a sua herança para o Templo, eles poderiam deixar seus pais sem ajuda. Isso enfraqueceu o quarto mandamento, que era a dobradiça do clã (Mc 7,8-13). Além disso, a observância das normas de pureza era fator de marginalização de muitas pessoas: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros, leprosos, endemoniados, publicanos, doentes, aleijados, paralíticos.
• E assim, a preocupação com os problemas da própria família impedia que as pessoas se unissem em comunidade. Então, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se na vida comunitária do povo, as pessoas tinham de ir além dos limites estreitos da pequena família e abrir-se novamente para a grande família, para a Comunidade. Jesus nos dá o exemplo. Quando sua família tentou agarrá-lo, reagiu e alargou o sentido da família: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" E, estendendo a mão para os seus discípulos, disse: "Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Pois quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe ". Criou comunidade.
• Jesus pedia o mesmo para todos os que queiram segui-lo. As famílias não poderiam fechar-se em si mesmas. Os excluídos e marginalizados deviam ser recebidos dentro da convivência e, assim, se sentir acolhidos por Deus (cf. Lc 14,12-14). Este era o caminho para alcançar o objetivo da Lei que dizia: "Não deve haver pobres entre vós" (Dt 15,4). Como os grandes profetas do passado, Jesus procurava fortalecer a vida comunitária nas aldeias da Galiléia. Ele retoma o sentido mais profundo do clã, família, da comunidade, como expressão da encarnação do amor de Deus no amor ao próximo.

4) Para um confronto pessoal
• Viver a fé em comunidade. Qual é o lugar e a influência das comunidades em minha maneira de viver a fé?
• Hoje, em grandes cidades, a massificação promove o individualismo que é contrário da vida em comunidade. O que estou fazendo para combater este mal?


5) Oração final

Cântico evangélico Lc 1,46-55

Ant. – Santa Maria, sempre Virgem, Mãe de Deus, Senhora nossa; sois o templo do Senhor, santuário do Espírito! Mais que todas as gerações agradastes a Jesus, nosso Senhor.

– 46 A minha alma engrandece ao Senhor * 
47 e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador;

– 48 porque olhou para humildade de sua serva, * 
doravante as gerações hão de chamar-me de bendita.


– 49 O Poderoso fez em mim maravilhas * 
e Santo é o seu nome!
 
– 50 Seu amor para sempre se estende * 
sobre aqueles que o temem;


– 51 manifestou o poder de seu braço, * 
dispersou os soberbos;
 
– 52 derrubou os poderosos de seus tronos * 
e elevou os humildes;
53 saciou de bens os famintos, * 
despediu os ricos sem nada.
54 Acolheu Israel, seu servidor, * 
fiel ao seu amor,
 

– 55 como havia prometido a nossos pais, * 
em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre.
 

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. * 
Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Ant. – Santa Maria, sempre Virgem, Mãe de Deus, Senhora nossa; sois o templo do Senhor, santuário do Espírito! Mais que todas as gerações agradastes a Jesus, nosso Senhor.




Sobre a Apresentação de Nossa Senhora

A memória que a Igreja celebra hoje não encontra fundamentos explícitos nos Evangelhos Canônicos, mas algumas pistas no chamado proto-evangelho de Tiago, ou ainda, História do nascimento de Maria. A validade do acontecimento que lembramos possui real alicerce na Tradição que a liga à Dedicação da Igreja de Santa Maria Nova, construída em 543, perto do templo de Jerusalém. Celebra-se a “dedicação” que Maria fez de si mesma a Deus, já desde a infância, movida pelo Espírito Santo que a encheu de graça desde a sua imaculada conceição.

Segundo uma piedosa tradição, Maria Santíssima, tendo apenas três anos de idade, foi pelos  pais, em cumprimento de uma promessa, levada ao templo, para ali, com outras meninas, receber educação adequada  à sua idade e  posição. A Igreja oriental distinguiu este fato com as honras de uma festa litúrgica. A Igreja ocidental conhece a comemoração da Apresentação de Nossa Senhora desde o século VIII. Estabelecida primeiramente pelo Papa Gregório XI, em 1372, só para a corte papal, em Avignon, em 1585, Sixto V ordenou que fosse celebrada em toda a Igreja.
Tanto no Oriente, quanto no Ocidente trata-se de uma celebração mariana nascida do meio do povo. Foi acolhida pela Liturgia Católica com a finalidade de exaltar a Jesus através daquela muito bem soube isto fazer com a vida, como partilha Santo Agostinho, em um dos seus Sermões:
“Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação; criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado? Fez Maria totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. E assim Maria era feliz porque já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente”.
Foi no dia 21 de novembro de 1964 – dia comemoração da Apresentação de Nossa Senhora - que o Papa Paulo VI, na clausura da 3ª Sessão do Concílio Vaticano II, consagrou o mundo ao Coração de Maria e declarou Nossa Senhora Mãe da Igreja.
Nossa Senhora da Apresentação, rogai por nós!


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

28 de Outubro - São Simão e São Judas Tadeu



REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

28 de Outubro - São Simão e São Judas Tadeu, Apóstolos


São Simão e São Judas Tadeu, Apóstolos


1) Oração

Ó Deus, que, pela pregação dos Apóstolos,

nos fizestes chegar ao conhecimento do vosso Evangelho,
concedei, pelas preces de São Simão e São Judas,
que a vossa Igreja não cesse de crescer,
acolhendo com amor novos fiéis.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Lucas 6, 12-19)

6,12Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus. 13Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos: 14Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, 15Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; 16Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor. 17Descendo com eles, parou numa planície. Aí se achava um grande número de seus discípulos e uma grande multidão de pessoas vindas da Judéia, de Jerusalém, da região marítima, de Tiro e Sidônia, que tinham vindo para ouvi-lo e ser curadas das suas enfermidades. 18E os que eram atormentados dos espíritos imundos ficavam livres. 19Todo o povo procurava tocá-lo, pois saía dele uma força que os curava a todos. – Palavra da Salvação.

3) Reflexão  Lucas 6, 12-19
*  O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) descreve a escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12-16) e (2) informa que uma multidão imensa de gente queria encontrar-se com Jesus para ouvi-lo, tocar nele e ser curada (Lc 6,17-19).
Lucas 6,12-13: Jesus passa noite em oração e escolhe os doze apóstolos
Antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos, Jesus subiu a uma montanha e passou uma noite inteira em oração. Rezou para saber a quem escolher e escolheu os Doze, cujos nomes estão registrados nos evangelhos. A eles deu o título de apóstolo. Apóstolo significa enviado, missionário. Eles foram chamados para realizar uma missão, a mesma que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Marcos concretiza mais a missão e diz que Jesus os chamou para estar com ele e enviá-los em missão (Mc 3,14).
Lucas 6,14-16: Os nomes dos doze apóstolos
Com pequenas diferenças os nomes dos Doze são iguais nos evangelhos de Mateus (Mt 10,2-4), Marcos (Mc 3,16-19) e Lucas (Lc 6,14-16). Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento: Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que o nome de Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também se chamava Levi (Mc 2,14), que foi outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete tem nome que vem do tempo dos patriarcas: duas vezes Simão, duas vezes Tiago, duas vezes Judas, e uma vez Levi! Isto revela a sabedoria do povo. Através dos nomes dos patriarcas e das matriarcas, dados aos filhos e filhas, eles mantinham viva a tradição dos antigos e ajudavam seus filhos a não perder a identidade. Quais os nomes que nós damos hoje para os nossos filhos e filhas?
Lucas 6,17-19: Jesus desce da montanha e a multidão o procura
Ao descer da montanha com os doze, Jesus encontrou uma multidão imensa de gente que o procurava para ouvir sua palavra e tocá-lo, porque dele saía uma força de vida. Nesta multidão havia judeus e estrangeiros, pois vinham da Judéia e também lá de Tiro e Sidônia. É o povo abandonado, desorientado. Jesus acolhe a todos que o procuram. Judeus e pagãos! Aqui transparece o ecumenismo, a abertura universal da missão, tema preferido de Lucas que escreve para pagãos convertidos.
As pessoas chamadas por Jesus, consolo para nós.
   Os primeiros cristãos lembraram e registraram os nomes dos Doze apóstolos e de outros homens e mulheres que seguiram Jesus de perto. Os Doze, chamados por Jesus para formar com ele a primeira comunidade, não eram santos. Eram pessoas comuns, como todos nós, com suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um deles. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós. 
* Pedro era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o coração dele encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Chegou a ser satanás (Mc 8,33) e pedra de tropeço (Mt 16,23). Negou Jesus na hora do perigo (Lc 22,56-62). Jesus deu a ele o apelido de Pedra . Pedro, ele por si mesmo, não era Pedra. Tornou-se pedra (rocha), porque Jesus rezou por ele (Lc 22,31-32).
* Tiago e João estavam dispostos a sofrer com e por Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9, 54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17). João parecia ter um certo ciúme, pois queria Jesus só para o grupo dele e proibiu os outros usar o nome de Jesus para expulsar demônios (Mc 9,38).
* Filipe tinha um jeito acolhedor. Sabia colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 12,20-22; 6,7). Às vezes, era meio ingênuo. Teve hora em que Jesus perdeu a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
* André, irmão de Pedro e amigo de Filipe, era mais prático. Filipe recorre a ele para resolver os problemas (Jo 12,21-22). Foi André que chamou Pedro (Jo 1,40-41), e foi André que encontrou o menino com cinco pãezinhos e dois peixes (Jo 6,8-9).
* Bartolomeu parece ter sido o mesmo que Natanael. Este era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46).
* Tomé foi capaz de sustentar sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas quando viu que estava equivocado, não teve medo de reconhecer seu erro (Jo 20,26-28). Era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11,16).
* Mateus ou Levi era publicano, cobrador de impostos, como Zaqueu (Mt 9,9; Lc 19,2). Os publicanos eram pessoas comprometidas com o sistema opressor da época.
* Simão, ao contrário, parece ter sido do movimento que se opunha radicalmente ao sistema que o império romano impunha ao povo judeu. Por isso tinha o apelido de Zelota (Lc 6,15). O grupo dos Zelotas chegou a provocar uma revolta armada contra os romanos.
* Judas era o que tomava conta do dinheiro do grupo (Jo 13,29). Ele chegou a trair Jesus.
* Tiago de Alfeu e Judas Tadeu, destes dois os evangelhos nada informam a não ser o nome.

4) Para um confronto pessoal
1) Jesus passou a noite inteira em oração para saber a quem escolher, e escolheu estes doze! Qual a lição que você tira deste gesto de Jesus?
2) Os primeiros cristãos lembravam os nomes dos doze apóstolos que estavam na origem das suas comunidades. Você lembra dos nomes das pessoas que estão na origem da comunidade a que você pertence? Você lembra o nome de alguma catequista ou professora que foi significativa para a sua formação cristã. O que mais lembra delas: o conteúdo que lhe ensinaram ou o testemunho que deram?

5) Oração final

Exaltai o Senhor nosso Deus,
prostrai-vos ante seu santo monte,
porque santo é o Senhor, nosso Deus. (Sl 99, 9)



18 de Outubro - São Lucas

São Lucas - Guercino (1591–1666)

REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

18 de Outubro - São Lucas, Evangelista


1) Oração

Ó Deus, que escolhestes São Lucas

para revelar em suas palavras e escritos
o mistério do vosso amor para com os pobres,
concedei aos que já se gloriam do vosso nome
perseverar num só coração e numa só alma,
e a todos os povos do mundo ver a vossa salvação.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho    (Lucas 10,1-9)

Naquele tempo: 10,1O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2E dizia-lhes: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: `A paz esteja nesta casa!' 6Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: `O Reino de Deus está próximo de vós'". – Palavra do Senhor


3) Reflexão
*  Hoje, festa do evangelista São Lucas, o evangelho traz o envio dos setenta e dois discípulos que devem anunciar a Boa Nova de Deus nos povoados, aldeias e cidades da Galiléia. Os setenta e dois somos todos e todas nós que viemos depois dos Doze. Através da missão dos discípulos e discípulas, Jesus tenta resgatar os valores comunitários da tradição do povo que estavam sendo abafados pelo duplo cativeiro da dominação romana e da religião oficial. Jesus procura renovar e reorganizar as comunidades para que sejam novamente uma expressão da Aliança, uma amostra do Reino de Deus. Por isso, ele insiste na hospitalidade, na partilha, na comunhão de mesa, na acolhida aos excluídos. Esta insistência de Jesus transparece nos conselhos que dava aos discípulos e às discípulas quando os enviava em missão. No tempo de Jesus havia vários outros movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver, por exemplo, João Batista, os fariseus e outros. Eles também formavam comunidades de discípulos (Jo 1,35; Lc 11,1; At 19,3) e tinham seus missionários (Mt 23,15). Mas como veremos havia uma grande diferença.  
Lucas 10,1-3: A Missão.
Jesus envia os discípulos para os lugares aonde ele próprio deve ir. O discípulo é porta-voz de Jesus. Não é dono da Boa Nova. Ele os envia dois a dois. Isto favorece a ajuda mútua, pois a missão não é individual, mas sim comunitária. Duas pessoas representam melhor a comunidade.
Lucas 10,2-3: A Co-responsabilidade.
A primeira tarefa é rezar para que Deus envie operários. Todo discípulo e discípula deve sentir-se responsável pela missão. Por isso deve rezar ao Pai pela continuidade da missão. Jesus envia seus discípulos como cordeiros no meio de lobos. A missão é tarefa difícil e perigosa. Pois o sistema em que eles viviam os discípulos e ainda vivemos era e continua sendo contrária à reorganização do povo em comunidades vivas.
Lucas 10,4-6: A Hospitalidade.
Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus não podem levar nada, nem bolsa, nem sandálias. Mas devem levar a paz. Isto significa que devem confiar na hospitalidade do povo. Pois o discípulo que vai sem nada levando apenas a paz, mostra que confia no povo. Acredita que vai ser recebido, e o povo se sente respeitado e confirmado. Por meio desta prática o discípulo critica as leis de exclusão e resgata os antigos valores da convivência comunitária. Não saudar ninguém pelo caminho significa que não se deve perder tempo com coisas que não pertencem à missão.
Lucas 10,7: A Partilha.
Os discípulos não devem andar de casa em casa, mas sim permanecer na mesma casa. Isto é, devem conviver de maneira estável, participar da vida e do trabalho do povo do lugar e viver do que recebem em troca, pois o operário merece o seu salário. Isto significa que devem confiar na partilha. Assim, por meio desta nova prática, eles resgatam uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de acumulação que marcava a política do Império Romano e anunciam um novo modelo de convivência.
Lucas 10,8: A Comunhão de mesa.
Os fariseus, quando iam em missão, iam prevenidos. Achavam que não podiam confiar na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Por isso, levavam sacola e dinheiro para poder cuidar da sua própria comida. Assim, em vez de ajudar a superar as divisões, as observâncias da Lei da pureza enfraqueciam ainda mais a vivência dos valores comunitários. Os discípulos de Jesus devem comer o que o povo lhes oferece. Não podem viver separados, comendo sua própria comida. Isto significa que devem aceitar a comunhão de mesa. No contato com o povo, não podem ter medo de perder a pureza legal. Agindo assim, criticam as leis da pureza em vigor e anunciam um novo acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.
*Lucas 10,9a: A Acolhida aos excluídos.
Os discípulos devem tratar dos doentes, curar os leprosos e expulsar os demônios (Mt 10,8). Isto significa que devem acolher para dentro da comunidade os que dela foram excluídos. Esta prática solidária critica a sociedade excludente e aponta saídas concretas. É o que hoje faz a pastoral dos excluídos, migrante e marginalizados.
Lucas 10,9b: A chegada do Reino.
Caso todas estas exigências forem preenchidas, os discípulos podem e devem gritar aos quatro ventos: O Reino chegou! Anunciar o Reino não é em primeiro lugar ensinar verdades e doutrinas, mas sim levar a uma nova maneira de viver e de conviver como irmãos e irmãs a partir da Boa Nova que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai/Mãe de todos nós.

4) Para um confronto pessoal
1) Hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, acolhida aos excluídos: são as pilastras que sustentam a vida comunitária. Como isto está sendo realizado na minha comunidade?
2) O que é para mim ser Cristão ou ser Cristã? Numa entrevista na TV, alguém respondeu ao repórter: “Sou cristão procuro viver o evangelho, mas não participo na comunidade da Igreja”. O repórter comentou: “Então você se considera um bom jogador de futebol, mas não faz parte de nenhum time!” É o meu caso?

5) Oração final

Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras,
e vos bendigam os vossos fiéis.
Que eles apregoem a glória de vosso reino,
e anunciem o vosso poder. (Sl 144, 10-11)



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

12 de outubro - NOSSA SENHORA APARECIDA



REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Reflexões de Pe. Thomaz Hughes, SVD

FESTA DA NOSSA SENHORA APARECIDA



1) Oração

Ó Deus todo-poderoso, ao redermos culto à Imaculada Conceição de Maria, mãe de Deus e senhora nossa, concedei que o povo brasileiro, fiel à sua vocação e vivendo na paz e na justiça, possa chegar um dia à pátria definitiva. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (João 2,1-11)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João
Naquele tempo, 2,1 três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de Jesus. 
2 Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. 
3 Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: "Eles já não têm vinho". 
4 Respondeu-lhe Jesus: "Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou". 
5 Disse, então, sua mãe aos serventes: "Fazei o que ele vos disser". 
6 Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. 
7 Jesus ordena-lhes: "Enchei as talhas de água". Eles encheram-nas até em cima. 
8 "Tirai agora", disse-lhes Jesus, "e levai ao chefe dos serventes". E levaram. 
9 Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo 
10 e disse-lhe: "É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora". 
11 Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.
- Palavra da Salvação.

3) Reflexão  

    A primeira parte do Quarto Evangelho é comumente chamada “O Livro dos Sinais”, pois, o evangelista relata uma série de sete sinais que, passo por passo, revelam quem é Jesus, e qual é a missão d’Ele (embora algumas bíblias traduzam o termo grego por “milagre”, a tradução mais correta é: “Sinal”). O primeiro desses sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná, o nosso texto de hoje. Como quase todo o Evangelho de João, o relato está carregado de simbolismos, onde pessoas, números e eventos funcionam simbolicamente, para nos levar além da superfície das coisas, em uma caminhada de descoberta sobre a pessoa de Jesus.
Um dos temas centrais do quarto evangelho é o da “hora” de Jesus. A “hora” não se refere à cronometria, mas à hora de glorificação de Jesus, por sua morte e ressurreição. Em resposta ao pedido feito por Maria (note que João nunca se refere a Ela pelo nome, mas pelo título “mulher”), usando de uma maneira um tanto estranha este termo para a mãe d’Ele, João quer indicar que Jesus rejeita uma esfera meramente humana de ação para Maria, para reservar para Ela um papel muito mais rico, ou seja, o da mãe dos seus discípulos. Maria somente vai aparecer mais uma vez neste evangelho - ao pé da cruz, onde Ela e o Discípulo Amado assumem um relacionamento de Filho e Mãe. Devemos lembrar que o Discípulo Amado simboliza a comunidade dos discípulos/as do Senhor.
Não devemos reduzir a ação da Maria no texto à de uma incomparável intercessora. Embora seja comum esta interpretação na devoção popular, não se sustenta do ponto de vista exegético. É melhor ver Maria aqui como discípula exemplar, pois embora a resposta de Jesus indique um distanciamento entre a sua expectativa e a visão d’Ele, Ela continua com confiança n’Ele e leva outros a acreditar nele: “Façam tudo o que Ele lhes disser”.
O simbolismo da água tornada vinho é também importante. Não era qualquer água - era a água da purificação dos judeus. Com essa história, João quer mostrar que doravante os ritos judaicos de purificação estão superados, pois a verdadeira purificação vem através de Jesus. Podemos entender isso como a mudança de uma prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente considerada impura, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir de Jesus. Assim, em Caná Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do Templo, o que vai continuar ao longo do Evangelho de João.
A quantia do vinho chama a atenção - 600 litros! O vinho em abundância era símbolo dos tempos messiânicos, e na tradição rabínica, a chegada do Messias seria marcada por uma colheita abundante de uvas. Assim João quer dizer que a expectativa messiânica se realiza em Jesus. E as talhas transbordantes simbolizam a graça abundante que Jesus traz.
A figura do mestre-sala é também simbólica, bem como a dos serventes. Aquele que devia saber a origem do vinho da festa, não o sabia, enquanto estes, sabiam. Assim, o mestre-sala representa os chefes do Templo que não sabiam a origem de Jesus enquanto os servos representam os discípulos que acreditaram n’Ele.
Fazendo comparação entre o vinho antigo e o novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança era boa, mas a Nova a superou. Os ritos e práticas judaicos, ligados à purificação e ao sacrifício, não têm mais sentido, pois uma nova era de relacionamento entre a humanidade e Deus começou em Jesus.
O ponto culminante do relato está em v. 11: “Foi em Caná que Jesus começou os seus sinais, e os seus discípulo acreditaram n’Ele”. A fé deles não é intelectual ou teórica, mas o seguimento concreto do Mestre, na formação de novos relacionamentos de amor. Passo por passo, o autor vai revelando Jesus através de sinais para que nós, os leitores, possamos “acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome” (Jo 20, 31).

4) Para um confronto pessoal
1) Maria diz: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Como estou colocando em prática estas palavras da Mãe de Deus?
2) Percebo os sinais de Deus na vida e no mundo? Sou um sinal de Deus para os outros?

5) Oração final

Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:

que o rei se encante com vossa beleza!
Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:

"Esquecei vosso povo e casa paterna!
Que o rei se encante com vossa beleza!

Prestai-lhe homenagem: é vosso senhor!
O povo de Tiro vos traz seus presentes,

os grandes do povo vos pedem favores.

Majestosa, a princesa real vem chegando,

vestida de ricos brocados de ouro.
Em vestes vistosas ao rei se dirige,

e as virgens amigas lhe formam cortejo;

entre cantos de festa e com grande alegria,

ingressam, então, no palácio real" (Sl 44 / 45)


BREVE HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA APARECIDA

A história de Nossa Senhora da Conceição Aparecida tem seu início pelos meados de 1717, quando chegou a notícia de que o Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, iria passar pela Vila de Guaratinguetá, a caminho de Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto (MG).
Convocados pela Câmara de Guaratinguetá, os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves saíram à procura de peixes no Rio Paraíba. Desceram o rio e nada conseguiram.
Depois de muitas tentativas sem sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu, onde lançaram as redes e apanharam uma imagem sem a cabeça, logo após, lançaram as redes outra vez e apanharam a cabeça, em seguida lançaram novamente as redes e desta vez abundantes peixes encheram a rede.
A imagem ficou com Filipe, durante anos, até que a deu de presente ao seu filho. Este, usando de amor à Virgem, fez um oratório simples, onde passou a se reunir com os familiares e vizinhos, para receber todos os sábados as graças do Senhor por Maria. A fama dos poderes extraordinários de Nossa Senhora foi se espalhando pela região.
Por volta de 1734, o Vigário de Guaratinguetá construiu uma Capela no alto do Morro dos Coqueiros, aberta à visitação pública em 26 de julho de 1745. Mas o número de fiéis aumentava e, em 1834, foi iniciada a construção de uma igreja maior (atual Basílica Velha).
No ano de 1894, chegou a Aparecida um grupo de padres e irmãos da Congregação dos Missionários Redentoristas, para trabalhar no atendimento aos romeiros que acorriam aos pés da Virgem Maria para rezar com a Senhora "Aparecida" das águas.
O Papa Pio X em 1904 deu ordem para coroar a imagem de modo solene. No dia 29 de abril de 1908, a igreja recebeu o título de Basílica Menor. Grande acontecimento, e até central para a nossa devoção à Virgem, foi quando em 1929 o Papa Pio XI declarou Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil, com estes objetivos: o bem espiritual do povo e o aumento cada vez maior de devotos à Imaculada Mãe de Deus.
Em 1967, completando-se 250 anos da devoção, o Papa Paulo VI ofereceu ao Santuário de Aparecida a Rosa de Ouro, reconhecendo a importância do Santuário e estimulando o culto à Mãe de Deus.
Com o passar do tempo, a devoção a Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi crescendo e o número de romeiros foi aumentando cada vez mais. A primeira Basílica tornou-se pequena. Era necessária a construção de outro templo, bem maior, que pudesse acomodar tantos romeiros. Por iniciativa dos missionários Redentoristas e dos Senhores Bispos, teve início, em 11 de novembro de 1955, a construção de uma outra igreja, a atual Basílica Nova. Em 1980, ainda em construção, foi consagrada pelo Papa João Paulo ll e recebeu o título de Basílica Menor. Em 1984, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou oficialmente a Basílica de Aparecida Santuário Nacional, sendo o "maior Santuário Mariano do mundo".


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

07 de Outubro - Nossa Senhora do Rosário


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

07 de Outubro - Nossa Senhora do Rosário


Nossa Senhora do Rosário


1) Oração

Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações, para que, conhecendo, pela mensagem do anjo, a encarnação do Cristo, vosso Filho, cheguemos, por sua paixão e cruz, à glória da ressurreição pela intercessão da virgem Maria. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.



2) Leitura do Evangelho  (Lucas 1,26-38)
Naquele tempo, 26o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. 28Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. 29Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. 30O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. 32Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, 33e o seu reino não terá fim. 34Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? 35Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, 37porque a Deus nenhuma coisa é impossível. 38Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela. Palavra da Salvação.

3) Reflexão
*  Hoje é a festa de Nossa Senhora do Rosário. O texto do evangelho desta festa descreve a visita do anjo a Maria (Lc 1,26-38). A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo. No AT, muitas vezes, o Anjo de Deus é o próprio Deus. Foi graças à ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, que Maria foi capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do Anjo. Assim também acontece com a visita de Deus em nossas vidas. As visitas de Deus são frequentes. Mas por falta de ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, não percebemos a visita de Deus em nossas vidas. A visita de Deus é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já nem a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.
Lucas 1,26-27: A Palavra faz a sua entrada na vida.
   Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galiléia. Galiléia era periferia. O centro era Judéia e Jerusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome Maria significa amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de Deus a Maria começa com a expressão “No sexto mês”. Trata-se do "sexto mês" da gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade, precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e no fim (Lc 1,36.39).
Lucas 1,28-29: A reação de Maria.
   Foi no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia. O anjo diz: “Alegra-te! Cheia de graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes já tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12), a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros. Elas abrem o horizonte para a missão que estas pessoas do Antigo Testamento deviam realizar a serviço do povo de Deus. Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista, usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.
Lucas 1,30-33: A explicação do anjo.
   “Não tenha medo, Maria!” Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano: não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer de Maria. Este filho deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não ficar assustada.
Lucas 1,34: Nova pergunta de Maria
   Maria tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição: “Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?” Ela analisa a oferta a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois, humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se realizasse naquele momento.
Lucas 1,35-37: Nova explicação do anjo
   "O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus”. O Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo mundo dizia que ela não podia ter nenê! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!”
Lucas 1,38A entrega de Maria.
   A resposta do anjo clareou tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus estava pedindo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Maria usa para si o título de Serva, empregada do Senhor. O título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos (Is 42,1-9; 49,3-6). Mais tarde, Jesus, o filho que estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão:  “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mt 20,28). Aprendeu da Mãe!
Lucas 1,39A forma que Maria encontra para servir
   A Palavra de Deus chegou e fez com que Maria saísse de si para servir aos outros.  Ela deixa o lugar onde estava e vai para a Judéia, a mais de quatro dias de viagem, para ajudar sua prima Isabel. Maria começa a servir e cumprir sua missão a favor do povo de Deus.

4) Para um confronto pessoal
1. Como você percebe a visita de Deus em sua vida? Você já foi visitada ou visitado? Você já foi uma visita de Deus na vida dos outros, sobretudo dos pobres? Como este texto nos ajuda a descobrir as visitas de Deus em nossa vida?
3. A Palavra de Deus se encarnou em Maria. Como a Palavra de Deus está tomando carne na minha vida pessoal e na vida da comunidade?

5) Oração final
Que louvem o Senhor por sua bondade
e por suas maravilhas em favor dos homens.
Pois saciou quem tinha sede,
e cumulou de bens os que tinham fome. (Sl 106, 8-9)




quarta-feira, 2 de outubro de 2013

02 de Outubro - Santos Anjos da Guarda



REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

02 de Outubro - Santos Anjos da Guarda




1) Oração

Ó Deus, que na vossa misteriosa providência

mandais os vossos Anjos para guardar-nos,
concedei que nos defendam de todos os perigos
e gozemos eternamente do seu convívio.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho - Mateus 18,1-5.10  (Mc 9,33-37)

Naquele momento, 18,1 os discípulos se aproximaram de Jesus e perguntaram: "Quem é o maior no Reino do Céu?" 2 Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles, 3 e disse: "Eu lhes garanto: se vocês não se converterem, e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão no Reino do Céu.  4 Quem se abaixa, e se torna como essa criança, esse é o maior no Reino do Céu. 5 E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe."
(6 "Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar. 7 Ai do mundo por causa dos escândalos! É inevitável que aconteçam escândalos, mas ai do homem que causa escândalo! 8 Se a sua mão ou o seu pé é ocasião de escândalo para você, corte-o e jogue-o para longe de você. É melhor para você entrar para  a vida sem uma das mãos, ou sem um dos pés, do que ter as duas mãos ou os dois pés, e ser lançado no fogo eterno. 9 E se o seu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o e jogue-o para longe de você. É melhor para você entrar para a vida com um olho só, do que ter os dois olhos, e ser jogado no inferno de fogo.")
10 "Cuidado para não desprezar nenhum desses pequeninos, pois eu digo a vocês: os anjos deles no céu estão sempre na presença do meu Pai que está no céu.

3) Reflexão  Mateus 18,1-5.10  (Mc 9,33-37)
*  O evangelho de hoje traz um texto tirado  do Sermão da Comunidade (Mt 18,1-35), no qual Mateus reúne frases de Jesus para ajudar as comunidades do fim do primeiro século a superar os dois problemas que elas enfrentavam naquele momento, a saber, a saída dos pequenos por causa do escândalo de alguns (Mt 18,1-14) e a necessidade de diálogo para superar os conflitos internos (Mt 18,15-35). O Sermão da Comunidade aborda vários assuntos: o exercício do poder na comunidade (Mt 18,1-4), o escândalo que exclui os pequenos (Mt 18,5-11), a obrigação de lutar pela retorno dos pequenos (Mt 18,12-14), a correção fraterna (Mt 18,15-18), a oração (Mt 18,19-20) e o perdão (Mt 18,21-35). O acento cai na acolhida e na reconciliação, pois o fundamento da fraternidade é o amor gratuito de Deus que nos acolhe e perdoa. Só assim a comunidade será um sinal do Reino.
*  No Evangelho de hoje vamos meditar aquela parte que fala do acolhimento a ser dado aos pequenos. A expressão, os pequenos não se refere só às crianças, mas sim às pessoas sem importância na sociedade, inclusive as crianças. Jesus pede que os pequenos estejam no centro das preocupações da comunidade, pois "o Pai não quer que um só destes pequenos se perca" (Mt 18,14).
Mateus 18,1: A pergunta dos discípulos que provocou o ensinamento de Jesus
Os discípulos querem saber quem é o maior no Reino. Só o fato de alguém fazer esta pergunta mostra que ele não entendeu bem a mensagem de Jesus. A resposta de Jesus, isto é, o Sermão da Comunidade todo inteiro, é para fazer entender que entre os seguidores e as seguidoras de Jesus deve vigorar o espírito de serviço, doação, perdão, reconciliação e amor gratuito, sem buscar o próprio interesse.
Mateus 18,2-5: O critério básico: o menor é o maior.
“Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles”, Os discípulos querem um critério para poder medir a importância das pessoas na comunidade. Jesus responde que o critério é a criança! Criança não tem importância social, não pertence ao mundo dos grandes. Os discípulos, em vez de crescerem para cima e para o centro, devem crescer para baixo e para a periferia! Assim serão os maiores no Reino! E o motivo é este:  “Quem recebe a um destes pequenos, recebe a mim!” O amor de Jesus pelos pequenos não tem explicação. Criança não tem mérito, é amada pelos pais e por todos por ser criança. É a pura gratuidade do amor de Deus que aqui se manifesta e pede para ser imitada na comunidade pelos que acreditam em Jesus.
2. Mateus 18,6-9: Não escandalizar os pequenos.
O evangelho de hoje omite estes versículos de 6 a 9 e continua no versículo 10. Damos uma breve chave de leitura para estes versículos 6 a 9. Escandalizar os pequenos significa: ser motivo pelo qual os pequenos percam a fé em Deus e abandonem a comunidade. A insistência demasiada em normas e observâncias, como faziam alguns fariseus, afastava os pequenos, pois já não encontravam a prática libertadora trazida por Jesus. Diante disso, Mateus conservou frases bem fortes de Jesus, como aquela da pedra de moinho amarrada no pescoço e aquela outra: “Ai daquele ou daquela que for causa de escândalo!” Sinal de que naquele tempo os pequenos já não se identificavam mais com a comunidade e procuravam outros abrigos. E hoje? Só no Brasil, por ano, são em torno de um milhão de pessoas que abandonam as igrejas históricas e migram para as pentecostais. E são os pobres que fazem esta transição. Se eles saem, é porque os pobres, os pequenos, já não se sentem em casa na nossa casa! Qual o motivo? Para evitar este escândalo, Jesus manda cortar mão ou pé e arrancar o olho. Estas afirmações de Jesus não podem ser tomadas ao pé da letra. Elas significam que se deve ser muito exigente no combate ao escândalo que afasta os pequenos. Não podemos permitir, de forma nenhuma, que os pequenos se sintam marginalizados na nossa comunidade. Pois neste caso a comunidade já não seria um sinal do Reino de Deus. Não seria de Jesus Cristo. Não seria cristã.
3. Mateus 18,10: Os anjos dos pequenos na presença do Pai
"Cuidado para não desprezar nenhum desses pequeninos, pois eu digo a vocês: os anjos deles no céu estão sempre na presença do meu Pai que está no céu”. Hoje, às vezes, se ouve alguém perguntar: “Será que os anjos existem? Será que não é um elemento da cultura persa, onde os judeus viveram tantos séculos atrás durante o exílio da Babilônia?” É possível que seja. Mas isto não é o X da questão, não é a questão principal. Na Bíblia, o anjo tem um outro significado. Há textos em que se fala do Anjo de Javé ou Anjo de Deus e de repente se fala de Deus. Troca um pelo outro (Gn 18,1-2.9.10.13.16: cf Jz 13,3.18). Na Bíblia, anjo é o rosto de Javé voltado para nós. Anjo de guarda é o rosto de Deus voltado para mim, para você! É a expressão personalizada da convicção mais profunda da nossa fé, a saber, que Deus está conosco, comigo, sempre! É uma maneira de concretizar o amor e a presença de Deus na nossa vida, até nos mínimos detalhes.

4) Para um confronto pessoal
1) Os pequenos são acolhidos na nossa comunidade?. As pessoas mais pobres do bairro participam da nossa comunidade?
2) Anjos de Deus, Anjo de Guarda. Muitas vezes, o Anjo de Deus é a pessoa que ajuda outra pessoa. Existem muitos anjos e anjas na sua vida?

5) Oração final
Foste tu que criaste minhas entranhas
e me teceste no seio de minha mãe.
Eu te louvo porque me fizeste maravilhoso;
são admiráveis as tuas obras. (Sl 138, 13-14)