São Lucas - Guercino (1591–1666)
REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Frei Carlos Mesters, O.Carm.
18 de Outubro - São Lucas, Evangelista
1) Oração
Ó Deus, que escolhestes São
Lucas
para revelar em suas
palavras e escritos
o mistério do vosso amor
para com os pobres,
concedei aos que já se
gloriam do vosso nome
perseverar num só coração e
numa só alma,
e a todos os povos do mundo
ver a vossa salvação.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 10,1-9)
Naquele tempo:
10,1O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a
dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2E
dizia-lhes: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso,
pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3Eis
que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis
bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5Em
qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: `A paz esteja nesta casa!' 6Se
ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará
para vós. 7Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que
tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em
casa. 8Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do
que vos servirem, 9curai os doentes que nela houver e dizei ao povo:
`O Reino de Deus está próximo de vós'". – Palavra do Senhor
3) Reflexão
* Hoje,
festa do evangelista São Lucas, o evangelho traz o envio dos setenta e dois
discípulos que devem anunciar a Boa Nova de Deus nos povoados, aldeias e
cidades da Galiléia. Os setenta e dois somos todos e todas nós que viemos
depois dos Doze. Através da missão dos discípulos e discípulas, Jesus tenta
resgatar os valores comunitários da tradição do povo que estavam sendo abafados
pelo duplo cativeiro da dominação romana e da religião oficial. Jesus procura
renovar e reorganizar as comunidades para que sejam novamente uma expressão da
Aliança, uma amostra do Reino de Deus. Por isso, ele insiste na hospitalidade,
na partilha, na comunhão de mesa, na acolhida aos excluídos. Esta insistência
de Jesus transparece nos conselhos que dava aos discípulos e às discípulas
quando os enviava em missão. No tempo de Jesus havia vários outros movimentos
que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver, por exemplo,
João Batista, os fariseus e outros. Eles também formavam comunidades de
discípulos (Jo 1,35; Lc 11,1; At 19,3) e tinham seus missionários (Mt 23,15).
Mas como veremos havia uma grande diferença.
* Lucas 10,1-3: A Missão.
Jesus envia os
discípulos para os lugares aonde ele
próprio deve ir. O discípulo é porta-voz de Jesus. Não é dono da Boa Nova.
Ele os envia dois a dois. Isto
favorece a ajuda mútua, pois a missão não é individual, mas sim comunitária.
Duas pessoas representam melhor a comunidade.
* Lucas 10,2-3: A Co-responsabilidade.
A primeira
tarefa é rezar para que Deus envie
operários. Todo discípulo e discípula deve sentir-se responsável pela
missão. Por isso deve rezar ao Pai pela continuidade da missão. Jesus envia seus discípulos como cordeiros no meio
de lobos. A missão é tarefa difícil e perigosa. Pois o sistema em que eles
viviam os discípulos e ainda vivemos era e continua sendo contrária à
reorganização do povo em comunidades vivas.
* Lucas 10,4-6: A Hospitalidade.
Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e
as discípulas de Jesus não podem levar nada, nem bolsa, nem sandálias. Mas devem levar a paz. Isto significa que devem confiar na hospitalidade do povo. Pois o discípulo
que vai sem nada levando apenas a paz, mostra que confia no povo. Acredita que
vai ser recebido, e o povo se sente respeitado e confirmado. Por meio desta
prática o discípulo critica as leis de exclusão e resgata os antigos valores da
convivência comunitária. Não saudar
ninguém pelo caminho significa que não se deve perder tempo com coisas que
não pertencem à missão.
* Lucas 10,7: A Partilha.
Os discípulos não
devem andar de casa em casa, mas sim permanecer na mesma casa. Isto é,
devem conviver de maneira estável, participar da vida e do trabalho do povo do
lugar e viver do que recebem em troca, pois
o operário merece o seu salário. Isto significa que devem confiar na partilha. Assim, por meio desta nova
prática, eles resgatam uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de
acumulação que marcava a política do Império Romano e anunciam um novo modelo
de convivência.
* Lucas 10,8: A Comunhão de mesa.
Os fariseus, quando iam em missão, iam prevenidos.
Achavam que não podiam confiar na comida do povo que nem sempre era ritualmente
“pura”. Por isso, levavam sacola e dinheiro para poder cuidar da sua própria
comida. Assim, em vez de ajudar a superar as divisões, as observâncias da Lei
da pureza enfraqueciam ainda mais a vivência dos valores comunitários. Os
discípulos de Jesus devem comer o que o
povo lhes oferece. Não podem viver separados, comendo sua própria comida.
Isto significa que devem aceitar a comunhão
de mesa. No contato com o povo, não podem ter medo de perder a pureza legal.
Agindo assim, criticam as leis da pureza em vigor e anunciam um novo acesso à
pureza, isto é, à intimidade com Deus.
*Lucas 10,9a: A
Acolhida aos excluídos.
Os discípulos devem tratar dos doentes, curar os leprosos e expulsar os demônios (Mt
10,8). Isto significa que devem acolher para
dentro da comunidade os que dela foram excluídos. Esta prática solidária
critica a sociedade excludente e aponta saídas concretas. É o que hoje faz a
pastoral dos excluídos, migrante e marginalizados.
* Lucas 10,9b: A chegada do Reino.
Caso todas estas
exigências forem preenchidas, os discípulos podem e devem gritar aos quatro
ventos: O Reino chegou! Anunciar o
Reino não é em primeiro lugar ensinar verdades e doutrinas, mas sim levar a uma
nova maneira de viver e de conviver como irmãos e irmãs a partir da Boa Nova
que Jesus nos trouxe de que Deus é Pai/Mãe de todos nós.
4) Para um confronto pessoal
1) Hospitalidade, partilha, comunhão de mesa, acolhida
aos excluídos: são as pilastras que sustentam a vida comunitária. Como isto
está sendo realizado na minha comunidade?
2) O que é para mim ser Cristão ou ser Cristã? Numa
entrevista na TV, alguém respondeu ao repórter: “Sou cristão procuro viver o
evangelho, mas não participo na comunidade da Igreja”. O repórter comentou:
“Então você se considera um bom jogador de futebol, mas não faz parte de nenhum
time!” É o meu caso?
5) Oração final
Glorifiquem-vos, Senhor, todas as vossas obras,
e vos bendigam os vossos fiéis.
Que eles apregoem a glória de vosso reino,
e anunciem o vosso poder. (Sl 144, 10-11)
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