REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Frei Carlos Mesters, O.Carm.
1) Oração
Ó Deus, que fizestes o abade
São Bento preclaro mestre na escola do vosso serviço, concedei que, nada
preferindo ao vosso amor, corramos de coração dilatado no caminho dos vossos
mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mt 19, 27-29)
Naquele tempo: 27Em seguida, Pedro tomou a palavra e disse-lhe: “Olha! Nós deixamos tudo
e te seguimos. Que haveremos de receber?” 28Jesus respondeu: “Em verdade vos digo, quando o mundo for renovado e o
Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes,
havereis de sentar-vos em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. 29E todo aquele que tiver deixado
casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome,
receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna. Palavra
da Salvação.
3) Reflexão
Mateus 19,27-29
* Hoje
é a festa de São Bento, padroeiro da Europa. Por isso, na Europa, o evangelho
de hoje é diferente. Os outros continentes continuam com a meditação do Sermão
da Missão (Mt 10,16-23), iniciada no dia 9 de julho. Na Europa, o evangelho de
hoje traz o convite de Jesus para abandonar tudo por causa dele (Mt 19,27-29).
Para entender todo o alcance deste convite é bom ter presente o seu contexto.
Jesus tinha dito ao jovem rico: "Se
você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e
você terá um tesouro no céu. Depois venha, e siga-me. O jovem, quando ouviu
isso, foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”
(Mt 19,22). Diante da reação negativa do jovem, Jesus fez aquele comentário de
que “é mais fácil um camelo passar pelo
buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino do céu” (Mt 19,24).
Esta palavra de Jesus provocou o espanto dos discípulos: "Então, quem pode ser salvo?" Jesus respondeu: "Para os homens isso é impossível, mas
para Deus tudo é possível". Em seguida vem a pergunta de Pedro que introduz o evangelho de hoje:
* Mateus
19,27: A pergunta de Pedro
“Olhe, Jesus,
nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos ter?” Apesar de terem abandonado tudo para poder seguir
a Jesus, eles ainda não tinham abandonado a mentalidade anterior. Ainda não
entenderam o sentido do serviço e da gratuidade. Abandonaram tudo, sim, mas
era para ter algo em troca: “O que vamos
ter?”. A resposta de Jesus é simbólica. Ela aborda dois assuntos: (1) a
reconstrução do novo Israel (Mt 19,28) e (2) a recompensa para quem abandona
tudo por amor a ele (Mt 19,29).
* Mateus
19,28: A reconstrução do novo Israel
"Eu
garanto a vocês: no mundo renovado, quando o Filho do Homem se sentar no trono
de sua glória, vocês, que me seguiram, também se sentarão em doze tronos para
julgar as doze tribos de Israel”. Existe recompensa, sim, mas não por
mérito. A recompensa será o fruto natural do compromisso gratuito, livremente
assumido, de seguir Jesus nesta vida. Pois quem segue Jesus nesta vida, estará
com ele na outra vida. A recompensa será: sentar no trono da glória junto com
Jesus. No mundo renovado, anunciado por Isaías (Is 65,17-25; 66,22-23), no qual
Jesus aparecerá como o Filho do Homem, o juiz universal, anunciado por Daniel
(Dn 7,13-14), os apóstolos estarão com Jesus, não como poder, mas como serviço.
No evangelho de João, Jesus formula a mesma coisa de outra maneira: “Quero que eles estejam comigo onde eu
estiver”.
* Mateus
19,29: A recompensa para quem abandona tudo por amor a Jesus
“E todo
aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, por
causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e terá como herança a vida
eterna”. Trata-se de dupla promessa: cem vezes mais nesta vida e, no
futuro, a vida eterna. Hoje, em muitas das comunidades eclesiais de base, o
povo reconhece a verdade desta promessa de Jesus para esta vida. Pois, a vida em
comunidade faz crescer o número de irmãos e irmãs, de pais e mães. A partilha
faz crescer a ajuda mútua a ponto de não haver mais necessitados entre eles.
Realizam o ideal de vida dos primeiros cristãos (cf At 2,44-45;4,34-35).
* A opção pelos pobres. No tempo de
Jesus, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de
conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da
comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros
movimentos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos
fariseus e essênios viviam separadas.
A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separadas do povo impuro. Alguns fariseus consideravam o
povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Jesus e a
sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas:
pobres, publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37).
Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc
21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt
5,3). Define sua própria missão como “anunciar
a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui
nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem
quer segui-lo para conviver com ele, manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro!
(Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres! (Mt 19,21-22) A pobreza, que
caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracteriza também a missão. Ao
contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de
Jesus não podem levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola,
nem sandálias (Mt 10,9-10). Devem confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6).
E caso forem acolhidos pelo povo, devem trabalhar como todo mundo e viver do
que receberem em troca (Lc 10,7-8). Além disso, devem tratar dos doentes e
necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podem dizer ao povo: “O Reino chegou!” (Lc 10,9). Este
testemunho diferente a favor dos pobres era o passo que faltava no movimento
popular da época. Cada vez que, na Bíblia, surge um movimento para renovar a
Aliança, eles recomeçam restabelecendo o direito dos pobres, dos excluídos. Sem
isto, a Aliança não se refaz! Assim faziam os profetas, assim faz Jesus. Ele
denuncia o sistema antigo que, em Nome de Deus, excluía os pobres. Jesus
anuncia um novo começo que, em Nome de Deus, acolhe os excluídos. Este é o
sentido e o motivo da inserção e da missão da comunidade de Jesus no meio dos
pobres. A opção pelos pobres atinge a raiz e inaugura a Nova Aliança.
4) Para um confronto pessoal
1. Uma pessoa que vive preocupada com a sua riqueza ou que vive querendo
adquirir aqueles produtos da propaganda na televisão, pode ela libertar-se de
tudo para seguir Jesus e viver em paz numa comunidade cristã? É possível? O que
você acha?
2. Como entender e
praticar hoje os conselhos de Jesus ao jovem rico?
5) Oração final
Feliz quem teme o Senhor
e muito se alegra nos seus mandamentos.
Poderosa sobre a terra será sua
descendência,
a posteridade
dos justos será abençoada. (Sl 111, 1-2)
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