REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Pe. Tomaz Hughes, SVD
14 de Setembro - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ
Exaltação da Santa Cruz
1) Oração
Ó Deus, que, para salvar a todos, dispusestes que o vosso Filho
morresse na cruz, a nós, que conhecemos na terra esse mistério, dai-nos colher
no céu os frutos da redenção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo.
Salmo - Sl
77(78),1-2.34-35.36-37.38 (R. cf. 7c)
Evangelho - Jo 3,13-17
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo
João
Naquele tempo, disse
Jesus a Nicodemos: 3,13"Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele
que desceu do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés
levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja
levantado, 15para que
todos os que nele crerem tenham a vida eterna. 16Pois Deus amou
tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que
nele crer, mas tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu
Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por
ele". Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Essa festa litúrgica tem destaque maior nas
Igrejas do Oriente, onde é comparada com a Festa de Páscoa. A sua celebração
tem as suas origens ligadas à dedicação das basílicas constantinianas
construídas nos lugares tradicionalmente identificados com Calvário e o Santo
Sepulcro.
O título “Exaltação da Santa
Cruz” chama a atenção, pois destaca o grande paradoxo da nossa fé - foi
exatamente através da Cruz, o mais terrível entre os suplícios, que veio a
salvação. Humanamente falando, a morte de Jesus na cruz significava o fracasso
total da sua vida e missão, mas, de fato, escondia a vitória de Deus sobre o
mal, da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado - uma vitória que se
manifestaria ao terceiro dia, na Ressurreição. No mistério pascal da
vida-morte-ressurreição de Jesus verifica-se o que proclama Paulo na Primeira
Carta aos Coríntios: “Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os
sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é
forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso
Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante.” (1Cor 1, 27s).
Torna-se muito importante
resgatar uma sadia teologia e espiritualidade da Cruz. De um lado temos que
superar uma pregação errada que identificava a Cruz com qualquer sofrimento,
como se o sofrimento em si fosse um valor positivo. Quantas pessoas sofreram
injustiças a vida toda, aguentando situações quase insuportáveis, por causa de
tal pregação que levava à passividade diante das injustiças e opressões. No
fundo, faziam de Deus um sádico! Do outro lado, na sociedade de hoje, a Cruz
não está muito popular, pois o sacrifício, a autodoação em favor de outros,
está na contramão da sociedade hedonista e consumista. Até dentro da Igreja
muitas vezes há uma busca da Ressurreição e vitória, sem que se mencione que o
triunfo de Jesus veio através de uma vida de doação que o levou à cruz - e como
consequência dessa coerência, à Ressurreição.
A festa de hoje celebra a
Cruz, não o sofrimento. Jesus não nos salvou porque sofreu três horas na cruz -
ele nos salvou porque a sua vida foi totalmente fiel à vontade do Pai. Por
causa dessa fidelidade, as suas opções concretas o colocaram em conflito com as
estruturas de dominação sócio-político-religiosas, o que causou o seu
assassinato judicial. A morte de Jesus foi muito mais do que uma tentativa de
eliminar alguém que incomodasse! Era tentativa de aniquilar o seu movimento, a
sua pregação, a visão de Deus e do projeto de Deus que Ele ensinava. A Cruz
então se tornava o símbolo de doação total através de uma vida de fidelidade
absoluta ao projeto do Pai. Era o último passo de coerência, consequência
lógica da fidelidade à vontade de Deus.
Assim, Jesus deixa bem claro
nas páginas dos Evangelhos que a Cruz é a característica do discípulo/a. “Se
alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga.” (Mc
8, 24). Jesus não nos convida a buscar o sofrimento, mas a carregar a cruz -
consequência de uma religião que é vivencial, que acarreta ações e atitudes
coerentes com o Deus em que acreditamos, e que traz em seu bojo as sementes de
conflito com todo poder opressor, pois “os meus projetos não são os projetos de
vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos” (Is 55, 8).
Paulo descobriu que pregar
Cristo sem a Cruz era esvaziar a evangelização. Assim declara à comunidade de
Corinto: “Entre vocês eu não quis saber outra coisa a não ser Jesus Cristo e
Jesus Cristo crucificado.”(1Cor 2, 2). A Cruz de Cristo é inseparável da sua
vida, pois é a consequência dela. Mas, a Cruz também não se separa da
Ressurreição, pois ela é o resultado de tal coerência e fidelidade. A festa de
hoje nos desafia para que respondamos ao convite de Jesus para carregar a nossa
cruz numa vida de discipulado e missionariedade, continuando a sua missão ao
mundo. Pois, como diz o nosso texto hoje, “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não
para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3,
17)
R. Das obras do Senhor, ó meu povo, não te
esqueças!
77,1Escuta, ó meu povo, a minha Lei,*
ouve atento as palavras que eu te digo;
2abrirei a minha boca em parábolas,*
os mistérios do passado lembrarei.
R. Das obras do Senhor, ó meu povo, não te
esqueças!
34Quando os feria, eles então o
procuravam,*
convertiam-se correndo para ele;
35recordavam que o Senhor é sua rocha*
e que Deus, seu Redentor, é o Deus Altíssimo.
R. Das obras do Senhor, ó meu povo, não te
esqueças!
36Mas apenas o honravam com seus
lábios*
e mentiam ao Senhor com suas línguas;
37seus corações enganadores eram
falsos*
e, infiéis, eles rompiam a Aliança.
R. Das obras do Senhor, ó meu povo, não te
esqueças!
38Mas o Senhor, sempre benigno e
compassivo,*
não os matava e perdoava seu pecado;
quantas vezes dominou a sua ira*
e não deu largas à vazão de seu furo.
R. Das obras do Senhor, ó meu povo, não te
esqueças!
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